Poços de Caldas firma parceria com empresa alemã para estudar viabilidade do monotrilho


04/07/2019 - Plamurb

Por Thiago Silva

Monotrilho de Poços de Caldas
Foto Camilla Rezende / G1)

Enquanto aqui em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) decidiu trocar o monotrilho da Linha 18-Bronze por um BRT, unicamente por questões políticas, a cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais decidiu estudar a possibilidade de reativação de seu sistema que há anos está abandonado.

O prefeito Sérgio Azevedo assinou, na tarde de quarta, dia 03 de julho, um Memorando de Entendimento com a empresa alemã ProReSus Gmbh, representada por seu diretor Phellipe Barcellos, que também representa a International Monorail Association. A assinatura da parceria aconteceu no gabinete do prefeito, em solenidade que contou com a presença do vice-prefeito, vereadores, secretários municipais e convidados e foi seguida por uma coletiva de imprensa. A parceria entre a multinacional, com aval do governo alemão e município, é inédita do Brasil.

O interesse partiu da própria empresa, que procurou a Prefeitura há aproximadamente dois meses, motivada pela notícia de que o município havia retomado o monotrilho. “Vimos aí uma oportunidade de investimento. O que para uma parte da população parecia ser um grande problema, a empresa viu uma solução. Então entramos em contato com a Prefeitura e hoje estamos dando um passo inicial para esta possível solução”, disse Phellip Barcellos.

O estudo de viabilidade econômico-financeira do monotrilho de Poços de Caldas será realizado pela empresa TUVRheinland, com experiência internacional no setor. De acordo com seu diretor para a América Latina, Marcos Camelo, a empresa já realizou estudos para os projetos de monotrilho de São Paulo, Salvador e Manaus. No exterior, já desenvolveu projetos para o Oriente Médio, mais especificamente em Dubai, na Europa e na Ásia, estando presente em mais de 20 projetos pelo mundo.

Os custos com o estudo serão exclusivos da empresa ProReSus GmbH, financiada pelo governo alemão, com conclusão prevista para dezembro deste ano. Após a assinatura do Memorando de Entendimento, o documento será enviado ao governo alemão, sendo um condicionante para o crédito. “O interesse no projeto é concreto, por isso a contratação do estudo de viabilidade econômica para dar um aval ao investimento”, afirmou Phellip Barcellos.

Os representantes das empresas alemãs estiveram reunidos na manhã do dia 03 na Prefeitura. O objetivo foi conhecer o sistema de mobilidade urbana da cidade, seu transporte público, o transporte por aplicativos, taxis, localizar os vetores de crescimento, localizar as universidades e outras informações. A empresa TUVRheinland irá disponibilizar uma equipe técnica formada por especialistas que fará pesquisas in loco para a formatação do estudo de viabilidade econômico-financeira.

De acordo com Phellip Barcellos, a tendência é que o monotrilho seja integrado ao sistema de transporte público do município, resgatando sua função original. “O foco é buscar viabilidade dentro do sistema integrado de transporte público. Nosso projeto não é competir com o transporte público, mas integrá-lo ao transporte turístico. O monotrilho também pode ser utilizado como meio de transporte para universitários, como via para chegada ao shopping, enfim, temos que provar uma demanda mínima para que o projeto seja viável economicamente”. Ao apresentar o estudo ao governo alemão e, se comprovada a viabilidade econômica, o diretor já terá em mãos também uma proposta de implementação do projeto para o monotrilho de Poços, com uma proposta de financiamento ao governo alemão.

O presidente da Câmara de Vereadores, professor Carlos Roberto, afirmou seu apoio ao projeto do monotrilho de Poços. “Vivemos um momento importante para nossa cidade. Todas as iniciativas que promovam qualidade de vida da população, como este investimento no monotrilho, merecem apoio da Câmara. Num momento oportuno, feita a licitação, espero que possamos ter uma empresa que possa investir e traga uma melhoria no transporte público, atendendo a população como um todo. Estaremos prontos para a viabilização necessária”.

Paralelamente ao evento na Prefeitura, técnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) percorreram toda a extensão do monotrilho, buscando elementos para a confecção de um laudo técnico de toda a estrutura. A visita técnica do IPT foi acompanhada por engenheiros da Secretaria Municipal de Obras.

“Este outro estudo do IPT irá gerar um laudo informando o atual estado da estrutura física do monotrilho. Buscamos com isso, dar total tranquilidade à população quanto à segurança da estrutura e que estamos fazendo o que há de melhor para o monotrilho e para Poços. A decisão que tomamos no início deste ano se mostra agora acertada. Prova disso é que fomos procurados pela empresa alemã, com interesse em investir na cidade. Então o que antes parecia um grande problema agora pode se transformar numa grande solução, integrada ao transporte coletivo e que vem a somar também na parte turística”, destacou o prefeito.

HISTÓRIA

Em 20 de agosto de 1981 a Câmara Municipal aprovou e o prefeito Ronaldo Junqueira sancionou a lei 3.119, que autorizou a concessão, mediante concorrência pública, para exploração de transporte de massa, por via elevada, com prazo de concessão estabelecido em 50 anos, sem possibilidade de prorrogação e contados a partir da inauguração.

Da inauguração, logo após dada a concessão, o monotrilho de Poços de Caldas, que era o único a funcionar no país no sistema ferroviário de transporte de massa, circulou poucas vezes, apenas como testes. Dos 30 km previstos, apenas 8km foram executados, e o trem passou a funcionar como atração turística.

O contrato estabelecia um prazo de 10 anos para que o monotrilho fosse inaugurado.

Em 1991, houve um aditamento do contrato, concedendo um prazo de mais 10 anos para conclusão.

Em agosto de 2000, foi oficialmente inaugurado, durante a realização da Festa UAI, nas proximidades do estádio Ronaldo Junqueira. O transporte funcionou poucas vezes até sofrer uma pane onde 19 pessoas precisaram ser retiradas pelo Corpo de Bombeiros. Em 2003, duas pilastras desabaram e desde então, nunca mais funcionou.

Um impasse entre a construtora e a Prefeitura impediu que a edificação voltasse a funcionar. A concessionária culpava a administração pública pela queda dos pilares de sustentação e solicitava uma análise da estrutura ainda existente. Em 2012, a Prefeitura compôs uma comissão de engenheiros para elaborar um parecer técnico sobre as condições estruturais do monotrilho.

Em 2014, o Ministério Público tentou fazer um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre a Prefeitura e a empresa J. Ferreira para resolver o impasse, mas o acordo não foi assinado e o processo ficou na Justiça.

Em 2016, a Justiça determinou que a Prefeitura realizasse obras de contenção dos taludes ao longo da Av. João Pinheiro e criasse planos de contingência para evitar a ruína da estrutura. A última ocorrência foi em 2018, quando parte da estrutura de uma pilastra começou a ceder e teve que passar por manutenção preventiva, a cargo da empresa.

Abaixo, segue um mapa que elaboramos com o traçado aproximado do monotrilho, bem como a localização das estações, com base em imagens do Google Earth e Street View. Inserimos, também, a localização do antigo traçado da ferrovia que chegava à cidade. Notem que a estação de Poços de Caldas fica ao lado de uma das estações do monotrilho. Se o Brasil e nossos políticos fossem sérios e tivessem visão de futuro, a ferrovia teria sido mantida e poderia fazer integração com o monotrilho, caso tivesse funcionado corretamente.